Banner principal do post FLORESTA ENCANTADA: HUNI KUIN + ERVADOCE
Campanha

FLORESTA ENCANTADA: HUNI KUIN + ERVADOCE

Uma coleção que honra e reverbera a cultura do Povo Huni Kuin

Christiane Cavichioli -

No coração da Amazônia, onde a floresta brilha e a tradição sussurra histórias ancestrais, nasce uma coleção que vai muito além da moda. A Ervadoce se uniu ao povo Huni Kuin para criar peças que são verdadeiras expressões de uma cultura rica e viva.

Cada estampa tem um significado profundo e trazem a força dos kenes Huni Kuin, grafismos sagrados que a grande Jibóia os ensinou. Esses grafismos e toda sua mitologia foram transmitidos oralmente, de geração em geração ao longo de séculos, desde o início do mundo. Todas as estampas foram desenhadas em colaboração com a Txima, jovem liderança da Aldeia Arco-Íris. 

Feita com respeito e autenticidade, essa coleção estará disponível a partir de 18 de Outubro, convidando todos a vestir não apenas uma roupa, mas um pedaço da alma da floresta.


 

NOSSA HISTÓRIA

Conheci a Txima em Janeiro de 2020. Lembro exatamente de como foi.

Ela e sua mãe, a Pãteani, estavam expondo artesanatos para venda na casa do irmão, Txana Itsa, durante um festival de Batismo Huni Kuin numa importante Aldeia do Alto Rio Tarauacá, Terra Indígena Seringal Independência. As tecelagens me chamaram a atenção. Aqueles padrões geométricos encantaram meus olhos. Escolhi um Txītūti, que é uma rede para visitas, maravilhoso, feito todinho de algodão nativo. Uma preciosidade.

Mal sabia eu que no decorrer do festival eu precisaria da ajuda delas. A Txima me levou pra casa, na Aldeia Arco-íris, bem pertinho da aldeia onde estava acontecendo o festival. Passei dois dias lá com toda a família e, aos poucos, essa convivência  mudou a forma como eu via o mundo, as pessoas, os povos indígenas. Essa conexão mudou o nosso destino. 

Durante esses anos, voltei pra visita-los mais 5 vezes. Com a Txima, a gente se ligava pelo menos toda semana. Algumas épocas era todo dia.

Me sinto privilegiada de poder conviver com essa família e poder viver a cultura Huni Kuin da sua forma mais simples e autêntica. Ao mesmo tempo, sei que tenho uma enorme responsabilidade em cada palavra e gesto meu. Eles precisam ser respeitados, reconhecidos e protegidos como pessoas e como povo. Mas o sonho deles passou a ser o meu também. A luta deles também é minha. 

Em Janeiro de 2024, fui pra lá pra ajudar e participar do primeiro festival de Batismo na Aldeia Arco-Íris. O mesmo festival em que conheci a Txima. Passei 2 semanas na Aldeia e poucos dias antes de sair de lá, a Txima vem com a seguinte conversa: “Haibu (ela me chama assim, significa comadre na língua Hãtxa Kuin, pois sou madrinha da filha caçula dela), eu queria muito fazer roupas com kenes (kenes são os grafismos sagrados Huni Kuin, em padrões geométricos, que eles usam nas tecelagens, em artesanatos e pinturas corporais). Você disse que trabalha com isso. Você consegue fazer? Você poderia vender na sua loja e a gente vender aqui.”

Eu olhei com um ar de dúvida, pois sabia exatamente a dificuldade que seria dar vida a um projeto como esse.

Aí ela disse: “Tá bom, se você não quiser fazer, me ensina que eu faço, eu vou atrás, eu aprendo”

Eu só pude responder: “Haibu, eu preciso pensar. Eu não sei se consigo fazer, mas prometo que vou pensar em alguma forma”.

Eu sabia que precisaria de autorização da FEPHAC para usar os kenes. A FEPHAC é a Federação dos Povos Huni Kuin do Acre e ela é responsável por zelar pela cultura Huni Kuin, inclusive o uso dos kenes. Esses são desenhos sagrados para o povo Huni Kuin. É preciso respeitar seu uso e sempre pensar em benefícios para o povo. Além disso, eu estava insegura em relação a aceitação de uma coleção tão diferente na Ervadoce. 

Voltei pra São Paulo e pedi a Deus que me desse sinais de que eu deveria seguir com esse pedido. Na mesma semana, tive dois sinais que me deixaram confiante de abraçar esse projeto e mostrar pra todo mundo o quanto o Povo Huni Kuin é especial. 

E assim seguimos, passo a passo, na construção dessa cápsula Huni Kuin + Ervadoce. Desenho das estampas, correção e aprovação com a Txima. Desenho das peças, modelagem, pilotagem e novamente aprovação com a Txima. 

Até que chegou o momento de fotografar e gravar as peças. Nosso sonho sempre foi fazer a companha lá na Aldeia, com a Txima e sua família vestindo as peças da coleção. Mas eu sabia de todos os desafios que isso envolveria. É longe, é difícil de chegar. A floresta tem seu próprio tempo. Ela é uma grande força que influencia tudo e todos. Nem sempre nossos planos são os planos dela. Precisamos de respeito e atenção para ouvir seus sinais, para entender por onde devemos andar e de que forma trazer para o mundo os pensamentos, sentimentos, emoções e desejos que estão ainda no plano das ideias.

Chegamos na floresta em Setembro, eu, a Mari e a Thaís, durante a maior seca e as maiores queimadas que eles já viram. É muito triste presenciar a luta de um povo por sobrevivência num mundo tão difícil. 

Isso nos deu ainda mais energia para gravar a campanha mais linda que a gente pudesse. Mostrar pro mundo a cultura viva do Povo Huni Kuin, a beleza, a graça. Acredito muito na frase: “Só pode ser protegido aquilo que é conhecido”. 

Passamos dias maravilhosos na aldeia. Foram 12 dias por lá. Trabalhamos bastante: foram no total 6 dias de fotos e gravações, a maioria no meio da floresta. Tudo foi feito por nós, com celular mesmo e um drone. 

Também aproveitamos para nos divertir e relaxar. Banho de rio, cotação de histórias, brincadeira com as crianças, medicinas e rituais indígenas. Uma verdadeira imersão, profunda e verdadeira, que marcou nossos corações para sempre.

Aqui na Ervadoce e na Aldeia Arco-íris, estamos todos radiantes com o resultado desse projeto ousado. Foi muita energia boa colocada, vinda de muitas pessoas. Mulheres guerreiras. Nós sonhamos, imaginamos, planejamos, desenhamos, produzimos e agora estamos aqui, na expectativa do lançamento para vocês! 

Meu maior desejo é que essa coleção possa aproximar nossos mundos, que possamos ver e respeitar nossas diferenças e que ela possa trazer muitos benefícios ao povo Huni Kuin e à família da minha amada Haibu Txima.

E por fim, gostaria de convidá-los a conhecer um pouco mais da história dessa família, apoiar e seguir a Aldeia Arco-Íris no Instagram: @aldeia.arcoiris

Se você ainda não segue a Ervadoce no Instagram, aproveita aqui! @ervadoceloja

E já sabe, nosso site está sempre cheio de novidades: www.ervadoceloja.com.br

Obrigada a todos vocês, 

Chris 

 


 

COMO ESTAMOS APOIANDO A ALDEIA ARCO-ÍRIS

  • 10% do valor arrecadado com o desenvolvimento desta coleção já foi doado para a Aldeia Arco-Íris. 
  • além disso, toda a receita das vendas de itens de Casa e Acessórios será destinada à aldeia, descontando apenas os custos com impostos, taxas de cartão de crédito e comissionamentos.
  • as peças doadas pelas clientes Ervadoce no período de 18/10 a 31/10 serão enviadas diretamente para a Aldeia Arco-Íris, com todo frete e logística pagos pela Ervadoce. 
  • além do apoio financeiro, a Aldeia Arco-Íris busca maior visibilidade para sua cultura e tradições. Isso permitirá que mais pessoas possam conhecer, visitar e apoiar projetos essenciais para melhorar a qualidade de vida da comunidade.

 

SOBRE A VENDA DE ARTESANATOS

A venda de artesanatos em tecelagem tradicional e miçangas é uma fonte de renda fundamental para o povo Huni Kuin. 

Atualmente, as regiões do Alto Rio Tarauacá e Rio Jordão vêm sofrendo com a falta de caça e peixes, por uma série de questões. Com isso, eles precisam agora comprar alguns desses produtos na cidade, para que eles consigam ter uma alimentação minimamente adequada. Quando falta dinheiro, falta comida. Uma realidade muito diferente da que eles viviam há 10 anos atrás.

Durante os dias 18 a 26 de Outubro iremos expor e vender vários desses artesanatos produzidos por crianças e mulheres Huni Kuin. As crianças também aprendem a fazer os artesanatos e adoram! 

O preço dos artesanatos foi colocado pelas artesãs e elas receberão exatamente esse valor. Aqui na Ervadoce apenas acrescentamos a comissão da assessora, os impostos e a taxa do cartão. Mais nada. A venda será exclusiva no site e no dia do evento de cada loja.

Em breve a Txima vai lançar um site com todas as peças disponíveis. Elas também aceitam pedidos por encomenda. 

 

SOBRE A DOAÇÃO DE ROUPAS PARA A ALDEIA

Roupa é muito caro naquela região. Principalmente por conta do valor altíssimo do frete para lá. 

Ainda por cima, na floresta as roupas estragam muito rápido. Sempre que vou pra lá tento levar roupas, pois sei que ajuda muito.

Então, durante os dias 18 a 26 de novembro incentivaremos as clientes  a doar peças de roupa novas e seminovas para a Aldeia Arco-íris. Todo o frete e a logística serão de responsabilidade da Ervadoce. Aceitaremos para doação peças sem qualquer furo, rasgo e excesso de uso. Não receberemos peças muito quentes, como tricots, casacos e alfaiatarias. Receberemos peças femininas, masculinas e infantis. Caso alguma peça doada não esteja nas condições ideais para o uso na Aldeia, faremos a doação dessas para a instituição Amigos do Bem.  

 


 

OS GRAFISMOS SAGRADOS DO POVO HUNI KUIN

Em Hãtxa Kuin, a lígua do povo Huni Kuin, os grafismos sagrados são chamados de kenes.

Eles são representações geométricas de plantas e animais, capazes de trazer a força e a energia para quem estiver usando. Dependendo do grafismo, podem trazer proteção, foco, agilidade, confiança para superar desafios, atração de coisas boas etc

É muito difícil ver um Huni Kuin que não esteja usando pelo menos algum kene. 

Os kenes podem ser pintados na pele com jenipapo ou urucum, tecidos nos padrões da tecelagem tradicional Huni Kuin ou em miçangas. 

 

ESTAMPA ISU HINA

Isu = Macaco

Hina = Rabo

Na mitologia Huni Kuin, o macaco preto é um animal de extremo poder. Sua energia é cultuada para trazer agilidade e proteção.

Os macacos são muito rápidos e ágeis. Correm e saltam pela floresta como nenhum outro animal. Fazem tudo com muita destreza.

Quando sentem-se encurralados por um caçador, o lider do bando olha para o homem e faz um sinal de proteção. Depois disso, nenhum mal é capaz de atingi-los. 

 

ESTAMPA TXERE BERU

Txere = Curica

Beru = Olho

A Curica é reverenciada por trazer a energia do foco, da determinação, da inteligência e da coragem. Ela foi a responsável por trazer o fogo sagrado e ensinar o povo Huni Kuin a usá-lo.

A mitologia conta que a Curica permaneceu por meses observando o único casal de seres humanos que tinha o fogo. Ela ficou maravilhada com seu brilho. Estava focada em conseguir um pedaço de brasa. Num momento em que a mulher descuidou, a Curica voou e pegou um pedaço de brasa com seu bico. 

Voou pra longe, o mais rápido que podia, mas não conseguiu aguentar por muito tempo. Seu bico estava queimando. Ela então soltou a brasa, que caiu sobre um mulateiro seco e logo a árvore estava toda em chamas. 

Os primeiros Huni Kuin puderam então conhecer o fogo e seu grande poder de trazer a luz para a escuridão, de transformar os alimentos e de esquentar seus corpos. 

Sua determinação e sua coragem mudaram a vida do povo Huni Kuin. 

 

ESTAMPA SHAWÃ BAWE

Shawã = Arara

Bawe = planta sagrada que parece uma jiboia

A Shawã é a rainha da voz e da beleza. Seu canto alto pode ser ouvido por toda a floresta e suas cores vibrantes chamam a atenção de todos por onde passa.

A Bawe é uma planta muito sagrada do povo Huni Kuin. Através do seu poder de abertura de visão, o povo Huni Kuin aprendeu a desenhar os kenes, que são os grafismos tradicionais. Cada kene traz consigo a energia de poder daquela planta ou animal que está representado. Para sintonizar essa energia, o povo Huni Kuin utiliza os kenes em pinturas corporais, tecelagens e artesanatos.

Na mitologia, a indígena Siriani encontra uma jiboia na floresta e fica admirada com os desenhos do seu corpo. Na volta, no mesmo lugar que estava a jiboia, ela viu homem todo pintado com kenes, os grafismos Huni Kuin. A jiboia encantou a Siriani e por isso ela podia agora enxergá-la toda pintada em corpo de homem. O homem pingou a sananga de Bawe, um colírio feito com essa planta sagrada, nos olhos de Siriani e ela então conseguiu enxergar os kenes dos animais e das plantas. Siriani então aprendeu a desenhar todos os kenes e ensinou seu povo.